Saudade. Muito tempo que não sentia. Deve ter sido porque sonhei com uma amiga querida e até acordei chorando, com o sonho ainda vivo na mente.
Passei o dia tentando reprimir as lembranças do passado e fiquei muito irritada porque desde que voltei do Brasil, é cada dia mais forte a convicção de que esse processo de "abafar" a saudade e as lembranças é uma cagada fenomenal. Afinal, você é o que você foi e é inútil renegar as lembranças com medo que isso prejudique o momento atual, claro, desde que não seja em modo doentio e é aí que está o problema: achar o equilíbrio.
Tive muita dificuldade com isso e agora que posso fazer voar livremente o pensamento no passado, sem chorar ou ter vontade de fazer as malas, não consigo mais.
Vou falar uma coisa: quando vou no Brasil me sinto meia que anestesiada nos sentimentos. Enquanto estou aqui, antes de partir, fico imaginando e até sinto aquela sensação gostosa de estar perto das pessoas que amo, do colo da mãe, do aconchego dos parentes, do abraço apertado do amigo mas quando estou lá parece que tudo isso me passa dentro como um fantasma que atravessa a parede.
Cacete, eu perdi a naturalidade dos sentimentos, dou poucas gargalhadas e tantos sorrisos de circunstancia, por causa do meu trabalho; poucos abraços e zero de contacto físico, porque aqui é feio ficar tocando nas pessoas. Repressão de tudo, no bem e no mal.
Acabei de falar isso com meu marido e ele não entende, claro, nunca sentiu. Me disse que a mudança foi positiva porque aprendi a "controlar" as emoções e por isso acho estranho quando as pessoas me abraçam. Nãããão! Não quero controlar minhas emoções positivas! Não é que a gente fica se abraçando com todos no meio da rua, feito musical de Gene Kelly. Eu não quero ser exuberante nem voltar a ser a menininha irresponsável que fui.
É só que tenho vontade de me relaxar um pouco. Sem precisar me sentir "estranha" por isso.
Ufa, deve ser o frio que me faz ficar assim.
Minha filha voltou do Brasil. Ainda bem que foi e voltou em paz. O namorado adorou, mesmo sem ter podido curtir as belezas da cidade. Chovia quase todos os dias, que droga, e ela ainda ficou doente no final das férias.
Ano que vem quero ir também no verão, não só em agosto.