Banco do Brasil
Uma vez por semana um rapaz vem aqui na loja. Depois de algum tempo, se é construído um relacionamento que vai além do bom-dia/boa-tarde e ele começou a se abrir comigo, reclamando da vida sentimental (futuro candidato à pergunta "tem uma amiga prá me apresentar?") dizendo que já foi casado duas vezes, apesar da pouca idade, acho que não chegou nem aos quarenta.
O segundo passo foi falar da insatisfação pessoal, de como não gostava do seu trabalho e que o salário não dava para nada pois tem que pagar pensão para uma das mulheres enquanto a outra ficou com a casa e os móveis, obrigando-o a voltar para a casa da mamãe.
Bem, desse rapaz eu já tinha falado uma vez no outro blog: ele era um dos dois clientes que me davam medo. O cara me dava uma sensação muito desconfortante, tipo parecia um serial-killer e me deixava ansiosa com o jeito de falar muito nervoso, acompanhado dos olhos que dançavam em modo estranho, parecendo um rato acuado no escuro.
Isso tudo desapareceu quando comecei a entender melhor o tipo, era tudo insegurança e apesar de não dar muito pitaco no que ele falava para evitar envolvimento e me encontrar com um carrapato à procura de confirmação,
procurei somente injetar um pouco de positivismo quando ele começava a falar de como era desgraçado e que nada dava certo na sua vida. Falei que quanto mais ele dizia as palavras desgraça, azar, maldição, vida horrível, etc., mais ele mesmo se convencia disso e não via as coisas positivas que poderiam acontecer.
Não sei se ele escutou mas aconteceu algo na sua vida que transformou a situação: está saindo com uma brasileira, ou melhor, está entrando. Como ele mesmo disse, é uma garota de programa e acho que ele está se apegando.
Chega aqui super-empolgado fazendo pergundas sobre o Brasil e eu até fiquei espantada com o tamanho da sua falta de conhecimento e de raciocínio lógico, estranho para uma pessoa da sua idade, normalmente são os velhos que perguntam se vim do Brasil de onibus.
Sábado ele me fez muitas perguntas a respeito de Goiania (que ele insistia em dizer que se chamava Guiana, que achou no mapa duas Guianas, e que uma era francesa) e foi uma dificuldade explicar a nossa divisão geográfica - país, estado, capital e, para complicar, Brasília no meio.
No final do papo, perguntou do que a gente vivia no Brasil, no que as pessoas trabalhavam, se era verdade que existiam essas tais de favelas.
Mas o máximo foi o diálogo final, já com a porta aberta:
- Mas no Brasil, tem Banco?
- Ahhhh, Banco não. No final do mês nos dão um cacho de bananas que a gente tem que trocar logo pelas coisas que precisamos antes que fiquem podres.
- Ah, ah, ah, você só pode estar brincando.
Falando em Goiania, fiquei sabendo que o estado de Goiás tem um triste título: é o estado brasileiro campeão no tráfico de mulheres.
Leia o artigo AQUI.
E nesta página, algumas histórias de vida das prostitutas nas cidades do norte e nordeste do Brasil.